Dando continuidade à nossa sequência de textos sobre o desempenho do setor industrial, no post de hoje abordaremos as razões por trás do fraco desempenho recente da indústria nacional, além do cenário esperado para o setor nos próximos meses.

Em meio ao choque negativo causado pelas restrições impostas durante a pandemia, a produção industrial brasileira encerrou o ano de 2020 com uma queda de 4,5%, que reflete principalmente um primeiro semestre muito negativo. Já no curso de 2021 a produção esboçou retomada, tracionada pelo processo de normalização da economia e amparada pela expressiva alta na demanda por bens, característica do período de pandemia. Com efeito, em 2021 a produção encerrou em alta de 3,9%, ainda que com alguma desaceleração no curso do segundo semestre, com persistentes dificuldades no âmbito das cadeias de oferta.

O início de 2022 foi marcado pela manutenção desse cenário desafiador. Em destaque, dois elementos são essenciais para entender as dificuldades do setor, a saber 1) a crise na cadeia de suprimentos; e 2) a conclusão do processo de reabertura da economia, com a normalização dos hábitos de consumo impulsionando uma rotação de volta ao setor de serviços. Nesse contexto, houve uma queda de 2% na produção industrial no acumulado até julho deste ano. De forma oposta, para o restante de 2022 temos uma perspectiva positiva para a dinâmica da produção industrial, como expressão da normalização das cadeias de suprimentos, o que do lado da oferta torna possível atender uma demanda em patamares ainda elevados em relação ao período pré-pandemia.

A demanda por bens industriais passou por diferentes fases ao longo do período 2020-2022. No auge da pandemia, quando as restrições sanitárias restringiam o funcionamento dos serviços, a renda normalmente destinada a este tipo de consumo foi redirecionada em favor de bens. Do ponto de vista de volumes, com os indicadores do IBGE conseguimos comparar o índice de vendas no varejo com o índice de serviços prestados, em especial às famílias. O gráfico abaixo revela a razão entre os volumes de vendas no varejo/serviços prestados às famílias, ilustrando o movimento que descrevemos. Já no início de 2022, o varejo se deparou com condições de demanda menos aquecidas em relação a 2021, devido à normalização dos hábitos de consumo em favor dos serviços com o avanço do processo de reabertura, na esteira do progresso da vacinação e do recuo da pandemia.

Por outro lado, para 2023 esperamos ventos contrários às perspectivas de demanda no geral, em razão de 1) o aperto das condições financeiras, derivado do ciclo de normalização da política monetária implantado pelo BC, que encarece as linhas de crédito a produtos mais sensíveis aos juros; e 2) a forte elevação nos preços de artigos industriais ao consumidor final. Ainda que já presentes em 2022, esses fatores ainda não geraram impactos significativos neste ano, graças aos pacotes do governo de estímulo à demanda e ao impulso de reabertura.

Do ponto de vista da oferta, desde o início da pandemia até meados de 2021, o inesperado crescimento da demanda aliado à escassez de insumos e problemas de logística se traduziram em enorme redução nos estoques. Em resposta a esse cenário, houve um esforço de recompor estoques, tracionado pela expansão dos pedidos feitos pelos agentes da indústria, que esperavam se valer da demanda extraordinariamente alta. Em um segundo momento, a recomposição continua, pois mesmo que a demanda rume no sentido da normalização, duas situações permanecem: 1) apesar de cadentes, os níveis de demanda seguem maiores que os do pré-pandemia; e 2) os estoques ainda seguem baixos, de tal sorte que a resolução dos problemas de oferta amparam a continuidade deste movimento, em especial vis-à-vis uma demanda ainda alta.

Essa recuperação nas condições de oferta pode ser entendida como o produto entre 1) o fim das restrições legadas pela pandemia; 2) a recomposição da capacidade de produção e; 3) a menor escassez de certos insumos na indústria de transformação, contribuindo para uma diminuição da pressão sobre os preços enfrentados pelo produtor e pela redução dos backlogs. Desta forma, demanda em níveis robustos, ainda que voláteis e potencialmente cadentes, aliada a condições de oferta mais favoráveis e espaço para reposição de estoques, oferecem a alavanca para um melhor desempenho do setor industrial nos próximos meses.

Em suma, o setor industrial está sujeito a diferentes vetores pela oferta e pela demanda, frequentemente contraditórios. Pela demanda, os ventos contrários trazidos pela normalização dos hábitos de consumo e altos preços de industriais provocam uma perda de fôlego no setor; pela oferta, a diluição dos entraves ao longo das cadeias produtivas e o espaço para recomposição de estoques, reforçam perspectivas positivas ao setor nos próximos meses.

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